Era Uma Vez Em Hollywood

Poucos diretores se tornaram tão populares quanto Quentin Tarantino. Se você nunca assistiu a um de seus filmes, certamente já ouviu falar deles — pela internet, muito se comenta sobre o estilo de Quentin, marcado pela violência gráfica, enredos não lineares e diálogos icônicos.

Recentemente, o autor fez sua estreia como romancista com o livro Era Uma Vez Em Hollywood, adaptação do filme homônimo escrito e dirigido por ele mesmo.

O romance narra alguns acontecimentos do ponto de vista de 4 personagens hollywoodianos:

Quando eu digo que o livro narra alguns acontecimentos, não é por acaso - ele não tem um enredo propriamente dito, com uma série de acontecimentos interligados de forma causal, mas sim uma sucessão desconexa de causos que vão se passando na vida dos personagens. Esse é um conceito que Tarantino trabalha em suas obras desde Pulp Fiction, mas aqui ele é, de fato, abusado - de um ponto de vista prático, não há uma progressão clara na trama.

Para alguns, isso pode incomodar - e para mim, de fato, foi bem frustrante... no filme. Pense em uma obra com 3 horas de rodagem em que pouco ou quase nada acontece. Fiquei esperando a virada, o fim do primeiro ato, esperando, esperando... e nada! Já no livro, fui com o coração mais aberto. Felizmente, o formato acomoda melhor essa dinâmica - ele funciona como uma coletânea de contos em torno de um mesmo universo. Temos mais tempo para nos envolver com os personagens e a experiência como um todo se torna mais prazerosa.

A escrita de Tarantino é bem seca — ela não se ocupa em ambientar o leitor com longas descrições, mas foca nas intenções dos personagens e nos diálogos que marcaram a sua obra. Outros traços de seu estilo que se fazem presentes aqui são os múltiplos protagonistas e a não-linearidade — se no cinema ele já é capaz de trocar, com facilidade, o ponto de vista pelo qual acompanhamos a história, num livro isso acontece de forma ainda mais natural. A cada capítulo o foco muda de personagem, em um parágrafo estamos no passado, em outro, já no futuro, etc.

Era Uma Vez em Hollywood mostra que Quentin é um autor desbalanceado, capaz não só de filmar grandes filmes como também de escrever ótimos livros. Ele tem contrato para mais um livro com a editora, e admito que já estou ansioso pela sua publicação.